sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Pálido Novembro


No penúltimo dia de Outubro já conseguia visualizar a palidez de Novembro. As folhas que voaram do caderno deixado em cima da mesa da cozinha, por onde andariam?
Os calos nas cordas vocais eram irreversíveis, gritara por ajuda noites a fio. Nenhum tear, nenhum dedal, o manequim desaparecera. A crueldade humana chega ao ponto de tirarem até o que não tem vida, mas que fazia uma diferença estranha nas noites em que vagava pelo atelier decadente. Ele era seu único companheiro. Quantas vezes chorou e confessou o que jamais ousaria nem para sua imagem no espelho? Ele a entendia, não criticava, o olhar era sempre terno.
O terno que usava, ela mesma o fizera, numa dessas noites em que a melhor companhia merecia um regalo.
Dentre tantas perdas, perdê-lo, doeu alfinetadas.
Dentre tantas saudades, a dele, era tesouradas.
Dentre tantos Novembros, aquele pereceria numa palidez alterada.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Rascunho exacerbado



A efervescência que emana dos meus poros, ébano do meu âmago.Um fio delgado produzido pela lagarta que me habita seda-me.As minhas intransigências cercam meus sentidos em forma de prisma decompondo a luz que reflete os meus anseios.Invento cores em nuances extravagantes, o exagero é o ápice do prazer e da dor, eu dôo por natureza e o meu êxtase também é nato.Vejo fraquezas de forma natural, a minha fortaleza está além dos tombos que levo por merecer.Não pratico jogos de azar, olho nos olhos e confesso através dos momentos e não dos tormentos. Minha inquisição é clara, mas nem todos podem ver.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ré confessa


E então aquele moreno, cabelos longos chegou. Mas chegou chegando mesmo, não quero dizer com isso que o cara me parou, eu é que parei na do cara. As frases dele pareciam ter um ponto final, e eu disse na lata, sou cara de madeira. Os homens inteligentes sempre tem a resposta certa, retrucou dizendo que as minhas tinham reticências. È que tentei fazer você desvendar o restante baby. Haven’t you got it?
Naquela noite eu era ré, não confesso se primária. Deixemos as culpas no jardim, elas não cabem em você, muito menos em mim. Confessei meus delitos cometidos em momentos de aluamento e determinação entranhados nas minhas várias faces de ver a lua. Até pensei - poderia ser tua. Mas meus momentos passam rápido se você não se mostra. Eu gosto das horas escancaradas na calada da noite, vinho tinto me deixa bravia. E com tudo isso, entretanto, todavia, ficamos lá naquele papo de desvendar quem perdeu e quem ganhou ao longo de acontecimentos passados. Papos mil, ex- namorados, ex- atual futura namorada, vida difícil ou desencanada.
Telefone dói os ouvidos.
E a conversa deve ter ficado para depois de um amanhã qualquer.
Não tenho pressa.
Só me vem o que realmente interessa.
Sou ré confessa.
E meu verbo ?
Presente do indicativo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cerol


O mel que escorre em meu lençol – cerol.
Eu arranho as ante-salas do seu protagonismo indecente. Eu rasgo em mil retalhos minhas vontades etéreas e coso a colcha que você se deitará. Os ruídos que te perturba o sono, sou eu a te chamar. Nas horas pálidas em que grito seu nome e você não está, cama leoa sou. Reviro a metrópole, finco o salto no peito de quem eu quiser, não diga novamente que sou doce, eu amargo ao entardecer, e lúbrica escorro pela noite, sem relógio nem órbita.
Sei que um dia há de vingar o cacto que plantei pra te agradar, e nesse dia estaremos sós.
Você e suas escolhas. Eu e meus nós.
Não se descuide querido, há muito cerol no meu lençol, e você bem sabe. Eu sei como usar.
Imagem : Google images

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A memória também me falha por compulsão




Você pode me pegar pela cintura, apertar com força, me beijar a boca. Mas eu nego.Embora não pareça nada disso, tenho certo pé na curva do compromisso. Da última vez voltei para buscar meu par de brincos que esqueci em cima da pia da cozinha, resolvi preparar o jantar, e comer sozinha. As minhas saias se enroscaram no zíper da sua calça de propósito, mas não venha me dizer que não percebeu quando seu olhar grudou no meu naquela tarde exaustiva. Entendo, você me acha compulsiva. Tenho compulsão por viver, apenas queria te mostrar o outro lado do muro do colégio, ousadias e sacrilégios, um bom dia com sabor de rock in roll. The wall, era tudo que eu tinha para te dar naquele dia.Você ignorou minhas pernas, meus olhos, minha boca. E se foi. Eu, atrapalhadamente sem chão, pisei firme, quebrei o DVD. Roger Waters que se foda.



E você...



Quem era você mesmo?




imagem colhida no google. J. Lopes

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Negue! e acenda uma vela*


Não me entenda mal, eu não sou volúvel, mas você tem que entender que minhas ânsias precisam ser acompanhadas. Já viu um dueto em que um dos músicos não toca no mesmo tempo da música e do parceiro?
Pois é baby, não existe, ai seria solo.
Você tem que aprender a me alinhavar primeiro, compreendo que não é tarefa simples, os meus pontos falham quando a agulha não está na medida, eu entorto e me espalho pelo chão do atelier. Sou escorregadia, é a natureza do tecido escolhido. Não me culpe, eles fizeram tudo por conta própria.
Eu segurei na sua gola de independência nata com força e tentei explicar, mas você sempre diz que sabe das escolhas que deve fazer e que lida muito bem com remendos de infernos que brotam no decorrer das necessidades da alma. Quando disse que sua alma é pequena, reiterou dizendo que quem afirma sempre nega algo.
Eu nego as voracidades não permitidas, as infelicidades escolhidas.
Sei dos rasgos nas suas fibras, que usar um tear antigo parece mais seguro.
Então me desalinhave de vez, jogue o tecido em água corrente, acenda uma vela, e fique de espreita na sua janela.
Eu sempre volto em forma de tempestade inesperada. E esse desejo será sua última negação.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Revelações e delitos




Ficou aqui feito uma farpa no meu dedo, e eu que pretendia te ofertar calores ao som de uma harpa no coreto da praça da cidade, à meia-luz.
E dos desenganos que te propus, eu sei que estava um pouco alta, o vinho me proporciona uma estranha sensação de júbilo e arrelia, você pode até dizer que é só quando me contraria.
Mas, não naquela noite.
Eu me vesti de pecado venial, mas não te confessei o que deveras urgia. Pode ter parecido imoral, mas eu gosto.
Embora não pareça sei das suas ranhuras, e também sei o que grita em suas entranhas quando tem que cumprir um celibato que criou para se punir. A frieza está para o calor, assim como o ódio para o amor.
O insípido não te cai bem.
Você é sápido. E eu não te perdôo por isso.
Amore.



sábado, 26 de setembro de 2009

Empatia




O mais interessante de tudo isso é você concordar que aconteceu uma “empatia” ente nós. Parece irônico me dizer:
- Cuidado para não se apaixonar!
Meu caro, empatia vem do grego e significa nada mais nada a menos que “paixão”.
Não quero te dar aula de Língua Portuguesa porque bem sei o quanto a conhece, mil vezes melhor que eu que a uso como me vem.
Eu costuro palavras, chuleio seu cérebro e coração, e depois penso o que farei com tudo isso.
Pode me chamar de esquisita, intensa, devoradora, eu adoro esses adjetivos malfadados.
O que não gosto é do morno, e você já deve ter percebido.
Por isso gosto quando vem me visitar sem armaduras, sem nome, feito cão sem dono.
É assim mesmo, cão sem dono, nem nome, não me interessa, gosto do que você traz, o verdadeiro Eu, aquele outro que não pode se mostrar ficou lá, no porão dos acontecimentos passados.
Então, vem me visitar, pois o meu apetite é um prato cheio para o seu cardápio.
Imagem: Google - www.overmundo.com.br

Pecado escada abaixo*


A volúpia que me arranha as coxas e pescoço é involuntária. Argumentos sutis dominam meus olhos e quadris enquanto as mãos firmes sulcam a matéria.
Do que é possível um desejo, não há como saber, enleia, cose, retalha.
E cai na malha fina das ilusões corroídas pelo ácido da indecisão mesclada a ausência de vitupérios maiores.
Eu perdi a vergonha nos corredores dos conventos, nas escadarias da sala de confissões.
E decidi que um mortal não mais me julgaria.

Razões em desalinho


Os segredos intrínsecos que cultivo por motivo justaposto, estampo no corpo, nos gestos e no rosto. As lavas que escorrem da barra do meu vestido azul, são ínfimas lágrimas que derramei por amor.
Não digo que não as derramarei nunca mais, nunca digo, “nunca”. Aprendemos com o passar do tempo que tudo gira, e pode voltar. Se a minha vida é esse ciclone desatinado e cheio de falhas, fui eu quem escolheu? Dizem que temos escolhas.
O meu ciclone perde o tino, assola, mas não perde o prazer de ser único.
E o seu vento, por onde tem ventado?
Você já percebeu o quanto gosta do vento te resvalando a face?
Sei das cavernas por onde tem andado, entendo a sua maneira de se proteger.
Preste atenção para não perder a próxima chuva, você gosta tanto da liberdade, do prazer,das tempestades. Outro banho de chuva pode não acontecer se você se mudar para o deserto.