sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Pálido Novembro


No penúltimo dia de Outubro já conseguia visualizar a palidez de Novembro. As folhas que voaram do caderno deixado em cima da mesa da cozinha, por onde andariam?
Os calos nas cordas vocais eram irreversíveis, gritara por ajuda noites a fio. Nenhum tear, nenhum dedal, o manequim desaparecera. A crueldade humana chega ao ponto de tirarem até o que não tem vida, mas que fazia uma diferença estranha nas noites em que vagava pelo atelier decadente. Ele era seu único companheiro. Quantas vezes chorou e confessou o que jamais ousaria nem para sua imagem no espelho? Ele a entendia, não criticava, o olhar era sempre terno.
O terno que usava, ela mesma o fizera, numa dessas noites em que a melhor companhia merecia um regalo.
Dentre tantas perdas, perdê-lo, doeu alfinetadas.
Dentre tantas saudades, a dele, era tesouradas.
Dentre tantos Novembros, aquele pereceria numa palidez alterada.

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